17. O RETORNO A NOVA YORK
(fatos ocorridos em 1963)

          No final do mês de março, eu, minha mãe e a Dra. Isabel tomamos o ônibus para voltar a Nova York, fazia muito frio e uma nevasca obrigava os veículos a fazerem fila atrás de caminhões limpa-neve, que removiam o excesso de neve da estrada. Embora meu pai não tenha viajado conosco por não gostar de aviões (preferiu o navio) ele esteve em Washington durante todo o tempo em que estive internado e sua presença e apoio foi muito importante para que eu conseguisse superar aquele período difícil.

          Chegando em Nova York, através do Lincoln Tunnel sob o Rio Hudson, fomos para o hotel descansar da viagem. No dia seguinte saímos para explorar a cidade, que apresenta atrações maravilhosas como o Central Park, que consegue ser bonito até no inverno, a Broadway com seus shows maravilhosos mesmo para quem não fala inglês, A Estátua da Liberdade, o Riverside Park e seus inúmeros museus, como o MOMA – Museu de Arte Moderna de Nova York.

          Em nosso segundo dia na cidade tomei coragem e resolvi subir no edifício mais alto do mundo na época, o Empire State Building. Tomamos um elevador até o 40º. andar e outro até o 80º. Andar, de onde se tem uma vista linda da cidade, uma lanchonete e uma banca de venda de souvenires. Depois tomamos outro elevador e chegamos ao 102º. Andar no topo do prédio, chamado de observatório. A vista lá de cima é indescritível até para quem tem medo de altura, como eu. O dia estava claro e pudemos avistar toda a cidade em todas as direções, algo que não se esquece por mais que o tempo passe!

          No terceiro dia de meu retorno a Nova York eu estava passeando com minha mãe e a Dra. Isabel e senti-me enjoado, pedindo à minha mãe que retornássemos ao hotel, o que demorou bastante pois estávamos passeando a pé. Entramos no hotel e fomos diretos ao elevador, mas com o movimento do mesmo eu tive ânsia de vômito e, sem conseguir controlar-me, vomitei sobre o coitado do ascensorista, que até hoje deve odiar-me com todas as suas forças. Nem pude desculpar-me...

          Minha mãe também deu seu fora na grande maçã (como é chamada a cidade), acostumada com a nossa tradicional bagunça atravessou a rua com o sinal para pedestres fechado. Ao chegar do outro lado da rua foi parada por um policial que a avisou que ela havia cometido uma infração e que a multa era de cinco dólares. Mamãe resolveu bancar a esperta (mania de brasileiro) e fingiu que não estava entendendo o que o guarda lhe dizia. O guarda então pegou sua carteira, retirou cinco dólares e lá deixou o recibo da multa. A lei é levada a sério em países do primeiro mundo.

          Minha principal diversão em Nova York era caminhar por aquelas avenidas mundialmente famosas, xingando todos os que passavam por mim com um sorriso nos lábios e um aceno de mão, assim ninguém entendia o que eu estava dizendo mas achavam que eu estava cumprimentando-os e sorriam de volta meio sem graças. Era ótimo! Hoje em dia tem tantos brasileiros em Nova York que se eu fizesse isto com certeza levaria umas quatro surras por dia.

          Uma pena que fiz esta viagem durante o inverno, não resta dúvidas de que o inverno apresenta belas e variadas atrações, como as decorações natalinas das ruas e lojas e do Rockfeller Center, como patinar no gelo no Central Park (levei tantos tombos que desisti do esporte), mas a grande maçã é muito mais bonita no verão, quando suas árvores exibem suas folhagens coloridas e as flores embelezam os parques e avenidas. Não posso negar que a cidade fica mais bonita no verão, quando, inclusive, não sofremos o desconforto do frio.

          Talvez por este motivo ainda sonho com um retorno a Nova York durante o verão, para apreciar tudo o que não pude ver nesta oportunidade, especialmente os jardins do Riverside Park, que tem lindas espécies de flores e os famosos shows ao ar livre no Central Park, como o de Simon & Garfunkel, simplesmente imperdível!



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