63. O ADEUS AO MEU PAI
(Fatos ocorridos em dezembro de 2007)


         É muito fácil falar do meu querido pai, porque ele sempre foi uma pessoa alegre, brincalhona e comunicativa, ele era a alegria da casa e, por isto mesmo, sua falta foi tão sentida. Aos 86 anos ele já sofrera três infartos, uma cirurgia de ponte de safena, dois derrames e uma cirurgia para a inserção de uma prótese na aorta abdominal. Além disto, ainda estava com grande dificuldade para se locomover devido a uma terrível ciática e aos ataques de labirintite. Nós sempre agradecíamos a Deus por tê-lo mantido entre nós apesar de todos estes problemas de saúde.


          Devido a sua dificuldade de locomoção ele não podia mais fazer exercícios e devido à falta de exercícios surgiram os problemas pulmonares, fibrose e enfisema pulmonar. Nós víamos aquela situação com um nó na garganta, todos nós sentíamos que o triste momento do adeus a este nosso ente tão querido estava se aproximando.

          Em setembro de 2007 meu pai levou um tombo no banheiro, fraturando a perna direita, que era a perna em que a ciática atacava com mais força, e batendo a cabeça na parede, ele caiu porque se desequilibrou ao se inclinar para pegar um objeto que havia caído no chão. Depois do susto tomamos as medidas necessárias e meu pai foi levado a um pronto socorro de fraturas onde engessou a perna, verificou que não tinha acontecido nada em sua cabeça, e voltamos para casa agradecendo a Deus por ele estar bem. Mas este tombo havia deslocado a prótese que ele portava na aorta abdominal e um vazamento de sangue já estava ocorrendo, vazamento este que foi descoberto no final de novembro, em seu exame periódico, que era feito de três em três meses.

          Quando recebemos a notícia do vazamento e, portanto, da necessidade de uma pequena cirurgia para detê-lo ficamos muito preocupados, as chances de um homem de 86 anos, com a saúde debilitada, sair vivo de uma cirurgia são muito pequenas, o que fazer? Seu médico não apenas afirmou a necessidade como a urgência da cirurgia, se o bolsão para onde o sangue estava vazando estourasse seria a morte imediata, sem chances de socorro. Não havia outra hipótese, para salvá-lo ele teria que ser operado!

          Decidimos que se ele teria que ser operado esta operação teria que ocorrer no melhor hospital do país (em nossa opinião), o Hospital do Coração de São Paulo. Munidos de toda a nossa fé e esperança embarcamos no avião para São Paulo no dia primeiro de dezembro de 2007. No dia três de dezembro ele foi internado, a cirurgia deveria acontecer no dia seguinte. O sofrimento foi intenso, mas nos agarramos na certeza, baseada na bondade divina, de que ele iria escapar de mais este desafio.

          A cirurgia, apesar de complexa, foi um sucesso e no dia seguinte meu pai voltou para o apartamento do hospital enchendo nossos corações de júbilo, o gigante havia conseguido superar mais este difícil obstáculo dos muitos que deixou para trás em seu caminho. Dois dias após a cirurgia, ainda muito debilitado e recuperando-se para voltar para casa, meu pai teve uma crise respiratória que nos surpreendeu, pois ele estava melhorando.

          Foi levado às pressas para a UTI retornando dois dias depois. Demos graças a Deus ao vê-lo voltar ao apartamento do hospital, tudo parecia normalizado. Dois dias depois outra crise respiratória levou-o de volta à UTI, de onde não sairia com vida. Como nenhum dos membros da equipe médica era especialista em pulmão, chamamos uma equipe de outro hospital, com os maiores especialistas da área para atender meu pai, o chefe desta equipe requereu um exame que foi feito com um muco retirado do pulmão e ficou constatado que, além da fibrose, meu pai sofria de enfisema pulmonar.

          Nós não sabíamos que ele sofria deste mal, pois isto não tinha sido detectado nos exames que meu pai havia feito nos meses anteriores devido a uma tosse insistente, que não queria ir embora. A partir deste momento nos agarramos às nossas preces e esperanças, suplicando a Deus pela vida do papai, pois a situação era gravíssima.

         
Eu e minha mãe precisamos voltar a Goiânia, para tomarmos algumas providências, deixando minha irmã e minha filha para acompanharem o tratamento do papai. Nosso plano era retornarmos após cinco dias, pois minha irmã e minha filha precisavam trabalhar e eu e minha mãe ficaríamos em São Paulo o tempo que fosse necessário, acompanhando a recuperação de meu pai.

         
Mas no dia anterior ao do nosso embarque chegou a notícia que nós não queríamos ouvir: meu pai, a pessoa chave de minha vida, havia falecido. Eu estava dirigindo, levando minha mãe para visitar uma amiga e quando parei o carro no sinal atendi o celular, minha irmã chorava e eu percebi que o terrível momento havia chegado. Não disse nada à minha mãe, queria poupá-la, continuei dirigindo com os olhos cheios de lágrimas e as mãos tremendo, graças a Deus minha mãe não percebeu nada.

         
Mamãe foi dormir sem saber da tragédia que havia se abatido sobre nossa família, no dia seguinte, bem cedo e com todo o cuidado, eu lhe contei o que tinha acontecido, ela chorou muito e foi se preparar para receber o corpo dele no aeroporto e para o velório que viria em seguida. Depois ela me agradeceu pela noite de sofrimento que eu evitei que ela passasse, pois o dia seguinte já seria o dia mais triste de sua vida.

         
Logo depois do funeral fiz a seguinte oração dedicada ao meu querido pai:

         Senhor, nunca te pedi nada com tanta dor no coração, com tantas lágrimas nos olhos ou com tanto remorso no peito, meu pai me deixou sem que eu pudesse dar um último beijo em seu rosto ou um último afago em seus cabelos brancos, pois nos separavam quase mil quilômetros, peço-lhe que faça chegar aos seus ouvidos não o meu choro ou a minha dor, mas a minha gratidão, minha declaração eterna de amor e minha esperança de que um dia vamos nos reencontrar e ser felizes de novo. Que assim seja!



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