22.
ARIVEDERCI ROMA
(fatos ocorridos entre 1965
e 1966)
Roma
era um paraíso naquela época, com as mesmas cem liras que
engraxávamos os sapatos nas máquinas automáticas do metrô,
podíamos saborear um belo prato de spaguetti com um piccolo
(meio litro de vinho). Um lugar onde nos divertíamos a valer
sem gastar quase nada. Mas chegou o dia de despedir de Roma
e, como acreditava que não voltaria, foi um dia triste. Despedimo-nos
de Roma na Fontana di Trevi e tomamos um trem para Gênova,
berço de Colombo e nossa nova base operacional.
Chegamos
em Gênova no início da madrugada e caminhamos até o centro
da cidade, estava tudo escuro e fechado. E agora? Temos os
corredores do metrô para dormir, mas lá é frio e inseguro.
Continuamos andando pela cidade e, de repente vimos uma placa
de pensão na parede. Como havia uma luz acesa nossa esperança
também se acendeu. Procuramos a campainha por demorados minutos
e nada, batemos palmas e nada. Já estávamos desistindo, pensando
em ir dormir no metrô quando, desanimado, encostei-me à
placa na parede. Foi quando ouvimos uma campainha! Putzgrila,
a campainha estava embutida na placa! Um rapaz desceu as escadas
e perguntou o que desejávamos. Explicamos que éramos brasileiros
em busca de pousada e ele, então, gritou: Mamma, ha due ragazzi
fuggiti dal Brasile qui! (Mãe, tem dois meninos fugidos
do Brasil aqui!)
A
dona da pensão era uma mulher bonérrima, nos acolheu e nos
tratou como filhos. Comíamos em sua mesa e não pagávamos as
refeições. Nos ajudou muito. Esta pensão fica quase na esquina
da Piazza Vitória, por onde perambulávamos todos os dias.
Então começamos a passear pelas redondezas, visitando cidades
vizinhas como Porto Fino, antiga vila de pescadores transformada
em belíssimo refúgio de milionários.
Uma
de nossas melhores viagens, partindo de Gênova, foi a Monte
Carlo e à Riviera Francesa. A cidade de Cannes é
belíssima, com seus hotéis luxuosos e fantásticas
mansões, mas a praia decepcionou porque não
tem areia, é puro cascalho. Visitamos a bela cidade
praiana francesa de Nice e de lá fomos assistir ao famoso
Rally de Monte Carlo. A cidade é pequena e mais parece um
presépio vivo, é linda. Lá passeamos a pé por todos os cantos
e conhecemos até o palácio do Príncipe Rainier.
Na
volta visitamos San Remo, famosa por seu festival internacional
da canção. Em Monte Carlo cometemos outra de nossas gafes
e, ao invés de pegar o trem de volta para Nice, tomamos o
trem que nos levaria a Marselha. Quando percebemos já estávamos
a vinte quilômetros de Monte Carlo. Tivemos que descer em
uma pequena estação e aguardar outro trem na direção correta.
O fato é que tivemos que parar o trem "na marra" (ele não
parava na estação, apenas diminuia a velocidade).
Em
Gênova conhecemos tudo sobre Colombo, desde o local onde nasceu
até o porto de onde partiu em direção à Espanha, onde começaria
sua aventura. O que facilitou nossos passeios em Gênova foi
o fato de que um dos filhos da "mamma" tinha um carro e nos
levou até em cidades vizinhas. Tivemos muita sorte mesmo.
Algum tempo depois partimos de Gênova de volta a Roma, levando
em nossos corações a gratidão àquela família da pensão e a
tristeza de termos que partir. Chegamos em Roma e meu coração
voltou a sorrir, como adoro aquela cidade. O tempo passava
e precisávamos aproveitar ao máximo. Agora iríamos nos concentrar
no sul e no norte do país, pois já conhecíamos o centro e
suas extremidades leste e oeste.