41.
OS REBENTOS
(fatos
ocorridos em 1977)
Em
1977 nasceram nossos filhos Ricardo e Lísia, nessa época já
havíamos mudado para um apartamento e o encanto ali se instalou.
Era uma festa, as primeiras visitas e o primeiro de tudo:
primeiro banho, primeiro choro, primeiro riso, tudo era fascinante
e nos trazia muita alegria. Meus filhos são um casal
de gêmeos, Ricardo é cinco minutos mais "velho" que a Lísia.
Como o Ricardo era muito forte, nós o apelidamos de Tukão
(turcão) e a Lísia, devido ao nome e à delicadeza, apelidamos
de Lili.
Procuramos
dar às crianças uma infância maravilhosa, eles moravam em
um apartamento mas estávamos sempre visitando parques e fazendo
viagens a Ipameri, onde fica a casa de meus avós e onde residiam
minhas tias Diva e Maria Alice, a Caldas Novas e a muitas
outras cidades. Nas férias nós mudávamos para a fazenda de
meu sogro, onde as crianças ficavam em estado de graça, ora
estavam andando de cavalo, ora estavam mergulhando na represa...
Acreditamos
que conseguimos dar a eles uma ótima infância. Eu fiz questão
absoluta de dar a eles uma infância inesquecível porque a
minha foi fantástica, como podem perceber nos primeiros capítulos
deste livro. Também tomei providências para ensinar o Tukão
a se defender, comprei dois pares de luvas de boxe e o treinei.
Certo
dia a Diretora da escola onde meus filhos estudavam telefonou-me
pedindo-me para comparecer na escola com urgência. Fiquei
preocupado, imaginando que uma das crianças tivesse se machucado
e corri para lá. Assim que chequei a Diretora, irritada, veio
falar comigo, dizendo que o Ricardo havia agredido uma criança
e que ele seria suspenso. Disse a ela que não diria nada até
ouvir meu filho, porque ele foi treinado para defender-se,
nunca para agredir.
Quando
o Tukão me viu já veio chorando e dizendo que não tivera culpa,
eu acalmei-o e pedi para que me contasse o ocorrido. Ele me
disse que foi tomar água no bebedouro e que, na hora em que
estava bebendo, um garoto se aproximou por trás, deu-lhe um
chute e ele bateu a cabeça na parede e que ele, então, revidou
e "meteu a mão na cara dele"! Depois de acalma-lo fui até
a Diretora e disse-lhe: Meu filho apenas se defendeu, se a
senhora tomar qualquer medida contra ele eu processo esta
escola!
A
Diretora voltou atrás e não fez nada! É óbvio que eu fiquei
orgulhoso (pode chamar-me de machista ou de pai-coruja, se
quiser), não só ele não mentira, como só usara a força para
revidar, ou seja, para se defender. Eu duvido que esse menino,
ou qualquer outro da escola, viesse a atacar o meu filho,
todos viram como o garoto se deu mau.
Foram
muitos anos de incontáveis alegrias e na época em que escrevi
este livro eles estavam se preparando para o vestibular, em
plena aborrecência (brincadeira). Como eu fui baterista, tinha
uma banda de rock que ensaiava todos os sábados no apartamento
de meus pais, não posso reclamar desse rock doidão de hoje,
que meus filhos adoram escutar a todo o volume!
É
claro que eu acho os rocks do meu tempo muito melhores do
que esses "barulhos" de hoje, mas isto aconteceu com meu pai
e vai acontecer com meus filhos, o tempo passa mas certas
coisas não mudam. É como o vai e vem da moda, eu usei muitas
roupas que caíram de moda, mas que hoje estão na moda novamente
(para jovens é claro!). Não vou contar que tipo de roupas
eram essas, mas quem foi jovem (sexo masculino) no Rio, na
década de 60, faz uma idéia...
Lembro-me
da coragem da Lili, quando tinha cerca de cinco anos, sua
mãe pedia que ela fosse comprar pão (tinha uma padaria do
outro lado do quarteirão) e ela ia alegre e meiga como é até
hoje, sem saber que nós a seguíamos de perto até termos certeza
de que ela sabia se defender. Ela fez amizade com todas as
pessoas que tinham lojas no seu caminho, de donos de botequins
a cabeleireiras, de forma que esses amigos também a vigiavam
e para eles ela poderia correr, se precisasse de ajuda.
Ela
sempre foi muito independente, como seu irmão, e isso é algo
ao qual eu dou muito valor, pois criamos os filhos para o
mundo, não para nós. Quem cria os filhos para si mesmo, cria
pessoas fracas, despreparadas e infelizes. Apesar da total
inexperiência que eu e minha ex-esposa tínhamos sobre crianças,
creio que oferecemos uma boa educação a eles, especialmente
minha ex-esposa, que sempre foi mais firme e exigente que
eu.
Hoje
eu sei que a companhia de meus filhos foi o presente mais
importante que Deus me deu, espero que logo tenha a companhia
de alguns netos, o que viria a aumentar ainda mais a minha
felicidade. Apenas não sei se algum dia poderei agradecer
a Deus por esses filhos maravilhosos que ele me deu... Estou
terminando este livro com trinta e quatro capítulos, mas minha
vida continua, a qualquer momento posso adicionar mais alguns
capítulos. O livro apenas será concluído após a minha morte
que, espero, ainda esteja bem distante. Ainda preciso contar
minhas novas viagens aos Estados Unidos e à Europa...