45.
SURPRESA EM LISBOA
(fatos
ocorridos em 2000)
O
Ricardo decidiu ir morar na Europa e eu o aconselhei a ir
para Portugal, não era o destino mais requintado, mas havia
a vantagem da língua e da legalização dos imigrantes.
Desta forma dia quatro de abril de 1999, aos vinte e um anos
de idade, ele mudou-se, deixando seu velho pai com o coração
cheio de saudade.
Ricardo
queria conhecer a Itália, de modo que foi primeiro para Roma
e, cerca de um mês depois, chegou em Lisboa. Como em qualquer
outro local, Ricardo adaptou-se depressa à vida em
Portugal e conseguiu legalizar-se antes do vencimento do seu
visto de turista. Cada telefonema ou carta que recebíamos
era uma festa, como é bom falar ou pelo menos receber
notícias de quem se ama...
A
verdade é que se eu soubesse que sofreria tanto assim com
a sua ausência eu jamais o deixaria sair daqui. Como é difícil
viver sem a sua presença... Meu filho foi criado para o mundo,
eu sempre soube que ele ficaria tranqüilo em qualquer lugar
do planeta, mas nunca estamos realmente preparados para uma
separação.
Mas
se meu filho não tivesse sangue de aventureiro nas veias ele
não seria meu filho, ele já me avisou que tão cedo não volta
para casa. Sinal de que tudo está bem do outro lado do Oceano
Atlântico. Como a saudade começava a ficar insuportável e
nós estavamos prestes a sair de férias, planejei uma
ida a Portugal para passar um mês em sua companhia.
Depois
de tudo combinado comprei a passagem e me preparei para embarcar.
O vôo fazia escala em São Paulo, onde ficaria cerca de duas
horas, e depois seguiria para Lisboa, onde chegaríamos à uma
hora da tarde. Ao chegar em Lisboa, depois de quase quatorze
horas de viagem, encontrei uma greve dos funcionários da alfândega,
haviam filas quilométricas para passar por ali.
Após
ficar cerca de uma hora quase dormindo naquelas filas cheguei
ao salão onde pegaríamos nossas malas, mas elas haviam sumido!
Começei a procurar desesperadamente e meia hora depois, finalmente,
as encontrei em um salão próximo. Meu filho, obviamente, já
devia estar preocupadíssimo com todo esse atraso.
Assim
que nos encontramos demos um abraço demorado, para matar a
danada da saudade, então ele pegou uma sacola de viagem que
ele trouxera e a minha mala e me perguntou: Vamos embora,
pai? Eu acenei que sim e ele começou a caminhar para dentro
do aeroporto. Eu o adverti que a saída era pelo outro lado.
Ele me respondeu que precisava passar em um lugar, que eu
fosse com ele. Tudo bem, mesmo após quinze horas e meia de
viagem!
Nós
andamos, depois subimos por uma escada rolante e lá na frente
chegamos em um portão de embarque. Meu filho mostrou uns papéis
à recepcionista, ela os devolveu e meu filho me chamou: Vamos,
pai? Eu já não estava entendendo mais nada, entrar em um portão
de embarque? Perguntei ao Ricardo se ele estava me despachando
de volta para o Brasil, ele riu e disse que queria apenas
me fazer uma surpresa, havia comprado as passagens e reservado
o hotel para passarmos uma semana em Paris!
Eu
o critiquei, disse que estava gastando muito dinheiro e ele,
então, me disse que queria pagar um pouco do muito que eu
havia feito por ele. Fiquei completamente abobalhado, emocionado
e feliz. Mais duas horas de viagem era tudo o que eu não queria
naquele dia, mas voltar a Paris também era um sonho antigo
meu e melhor: agora eu retornaria no verão, com a cidade toda
florida e sem ter que usar pesados sobretudos. No vôo eu não
vi quase nada, apenas abracei meu filho, conversei um pouco
com ele e dormi pesadamente. Mas assim que voltei a pisar
no Aeroporto de Orli comecei a sentir-me bem, quem não
sentiria?